Polícia Ferroviária Federal cobra regulamentação de promessa de Lula durante evento presidencial
- Giovana Fontoura
- 8 de jul.
- 3 min de leitura
Durante evento no Rio de Janeiro, presidente foi confrontado por agente da Polícia Ferroviária Federal sobre promessa de regulamentação da corporação, feita em 2009 e nunca cumprida
Rio de Janeiro — Um episódio incomum marcou a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva às obras de duplicação da Rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro, no dia 15 de abril de 2025. Durante o evento oficial, transmitido ao vivo pelas redes sociais, um agente da Polícia Ferroviária Federal interpelou o presidente, cobrando pessoalmente uma promessa feita por ele em 2009: a regulamentação da corporação, prevista na Constituição, mas nunca efetivada.
O agente, identificado como Isaias Nascimento Cardoso, se aproximou do “cercadinho” — espaço reservado para apoiadores e imprensa — e, em meio à fala de Lula, ergueu a voz para lembrar o presidente de sua própria declaração feita 16 anos antes, ainda em seu segundo mandato. Na ocasião, Lula afirmava publicamente que a regulamentação da PFF estava praticamente resolvida entre os ministérios da Justiça, da AGU e do Planejamento. O vídeo da promessa circulou amplamente nas redes após o novo episódio.
“Presidente, o senhor prometeu regulamentar a Polícia Ferroviária Federal em 2009! Até hoje nada!”, disse o agente, visivelmente emocionado.Lula, surpreso, interrompeu a fala e respondeu brevemente: “Esse companheiro levantou um tema fundamental”.
A cena viralizou nas redes sociais e reacendeu o debate sobre o status da Polícia Ferroviária Federal, corporação prevista no artigo 144, inciso III da Constituição Federal, como uma das forças de segurança pública, com atribuição específica para o patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
Apesar disso, a corporação nunca foi regulamentada por lei complementar, o que impede a existência de concurso público, carreira, orçamento próprio e atuação operacional estruturada. Sem essa regulamentação, agentes da área atuam de forma informal ou vinculada a associações, sem reconhecimento legal ou respaldo institucional.
Promessa antiga, realidade paralisada
Em 2009, o então presidente Lula declarou que a regulamentação da PFF era uma pauta em andamento, já acertada entre ministérios, e que faltavam apenas ajustes orçamentários. Desde então, passaram-se quatro mandatos presidenciais — dois de Dilma Rousseff, o interino de Michel Temer, e quatro anos de Jair Bolsonaro — sem que a pauta avançasse.
A atual gestão de Lula, iniciada em 2023, também não apresentou nenhuma proposta concreta ao Congresso Nacional para regulamentar a Polícia Ferroviária Federal. A cobrança feita publicamente expôs essa lacuna e trouxe visibilidade a um tema historicamente negligenciado no debate sobre segurança pública no país.
Segurança nos trilhos e descontinuidade institucional
A ausência de uma força policial estruturada e presente nas ferrovias brasileiras tem impacto direto na segurança do modal, que ganha cada vez mais importância estratégica no transporte de cargas. Recentemente, casos como o furto de buzinas de locomotivas, vandalismo, depredações e ocupações irregulares de faixas de domínio mostram o quanto a malha ferroviária está exposta.
Especialistas defendem que a regulamentação da PFF não é apenas uma reparação institucional, mas uma necessidade para proteger ativos logísticos, evitar prejuízos operacionais e preservar vidas. Sem a presença de uma força especializada, as concessionárias dependem do apoio limitado de polícias estaduais ou da PRF, que não possuem atribuição específica para o patrulhamento de trilhos e estações.
Repercussão política
O gesto do policial também gerou repercussão no meio político. Parlamentares da oposição e da base aliada comentaram o episódio nas redes sociais, alguns reconhecendo a legitimidade da cobrança e outros criticando a falta de encaminhamento concreto. Até o momento, o Palácio do Planalto não emitiu nota oficial sobre o tema.
Dentro do Congresso, a discussão sobre a segurança pública tem avançado com a tramitação da PEC 18/2025, que propõe a criação do Ministério da Segurança Pública. No entanto, a proposta não contempla a regulamentação da PFF, o que acendeu o alerta entre agentes e apoiadores da corporação, que veem o momento como oportuno para retomar a pauta.
A cobrança pública feita ao presidente Lula escancarou uma ferida aberta há mais de uma década. A Polícia Ferroviária Federal segue como uma promessa constitucional não cumprida, com repercussões práticas para a segurança, a mobilidade e o ordenamento jurídico do país. O gesto do agente Isaias Nascimento Cardoso foi mais do que um apelo pessoal: foi um lembrete público de que promessas feitas devem ser honradas — especialmente aquelas que dizem respeito à segurança pública nacional.
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